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Baleado

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


Baleado ?
Enfª Ana Eugênia Loyolla Hollanders

Acudam, ajudem, corram... meu colega deu um tiro no pescoço...
Estes gritos se fizeram ouvir em plena recepção do pronto socorro feitos por vozes jovens que adentravam nosso setor de trabalho,  sugerindo que estavam atormentados pela angustia... desespero ...preocupação. Portas se abriam, maca era levada para a porta de entrada...
Corremos a preparar a sala destinada a receber o paciente, enquanto passavam pelas nossas mentes os mais variados quadros de urgência que iríamos atender: soros, compressas para deter sangramentos, material para respiração artificial (ventilação mecânica), e rapidamente estava tudo pronto, equipe com luvas nas mãos. Mas, o paciente não chega...
Mais pensamentos nos inquietam e alguns nem tão otimistas:
- Será que não deu tempo...

Na recepção a desordem imperava, muitos aguardando, crianças correndo. Retorno a esta para tentar organizar e acalmar os colegas da possível vitima quando sou abordada por um dos jovens:
- Vocês não vão atender nosso colega nunca?
Olho bem ao meu redor na sala de espera e percebo que um dos meninos do grupo tem a camisa suja de sangue e as mãos no pescoço, sentado, quieto...
Chamo-o para sentar-se em cadeira de rodas e encaminha-lo ao atendimento medico conduzindo-o a sala de emergência e este ignora a cadeira e vem andando, sem nada dizer.
Ao avaliar o ferimento percebemos realmente dois orifícios característicos de ferimento por arma de fogo (FAF) com porta de entrada de projétil e porta de saída deste, em região de traquéia, mas... Algo estranho acontece... Ele está corado, respirando bem, sem sinais de lesão importante.
Pergunto ao jovem:
- Como foi esse tiro?
Ele responde com certo tom de vergonha:
- Sabe doutora, eu queria me matar de verdade, mas fiquei com medo de machucar muito e fiz assim (esticando a pele do pescoço)...


Naquele momento e do modo como contava a situação eu não sabia se ria, chorava ou ficava brava com o garoto, mas... Realmente, ele deu um tiro no pescoço, e para sua e nossa tranqüilidade, sem colocar em risco a sua vida...
Essas coisas acontecem em um dia de plantão...

2 comentários:

Gui 14 de janeiro de 2012 às 16:01  

Imagino sua cara quando o rapaz te contou isso Ana, huahua

Ana Hollanders 14 de janeiro de 2012 às 20:36  

Pois é, a cara eu não lembro, mas a vontade... essa foi de matar de verdade, rsrsrsrs

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PALAVRAS FINAIS

Que bons ventos te tragam sempre...
e que bons ventos te levem...

mais leve, feliz,

tranquilo e

em paz!

Grande abraço!

Ana Eugênia


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