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Mãe Joana

domingo, 13 de novembro de 2011

MÃE JOANA

                                                                                      Avenor A. Montandon

 
Zé Precotela. Esse era o seu nome. Era um crioulo muito preto e forte. Tinha uma característica peculiar. Os pés eram enormes. Sapato, só sob encomenda, tanto que só andava descalço.

O Precotela foi criado desde pequeno pelos meus avós na fazenda, onde ajudava como vaqueiro e capinador de roça. Era servil e humilde, resquícios de seus antepassados de escravos e dedicava aos velhos um respeito submisso, quase canino.

Saiu para casar, com a devida licença dos velhos, o “padrim e a madrinha”. Sua primeira mulher morreu de parto do quarto ou quinto filho, já não me lembro, deixando os filhos bem pequenos, principal argumento para arranjar logo o seu segundo casamento com uma crioula aparentemente saudável, gorda e risonha que quando ria parecia ter quarenta dentes na boca. Seu nome era Joana, tinha uns trinta anos quando casou com o Precotela. Dois ou três anos depois já havia aumentado a família em mais dois crioulinhos. Joana andava cerca de duas léguas a cada dois dias, para lavar e passar roupa na fazenda da vovó. Caminhava ligeira por uma trilha nas encostas suaves dos morros que circundavam a fazenda.

Na escadeira levava invariavelmente um filho mais novo, que não podia deixar em casa, pois até a idade de dois ou três anos os amamentava só no peito.

Sagrada rotina anos a fio.

Fazia parte da paisagem ver a Joana com um crioulinho encaixado na cintura, com uma trouxinha na cabeça rumo à sua casa ao final do dia de trabalho. Com o tempo, no entanto, o passo de Joana já não era tão ligeiro. Estava mais gorda (ou inchada) e parava, vez em quando, para descansar.

Descia o neguinho, o assentava sobre o cupim, respirava sôfrega, para depois prosseguir.

Certo dia, bem cedo, o Precotela apareceu na fazenda. Adentrou à cozinha, onde a vovó preparava um tacho para fazer sabão, tirou o chapéu.

- Bença madrinha.

-Bençoe Zé. Que veio você fazer aqui essa hora. Não é seu costume!

-Fiquei preocupado com a Joana, madrinha. Imaginei que ela tivesse dormido aqui hoje à noite com a menina, pois ela não voltou para a casa ontem.


- Que isso Zé?! - disse espantada.

- A Joana saiu ontem, ainda num era cinco horas!

O crioulo ficou branco de susto e assentou num banco à porta.

- Uai madrinha, então aconteceu alguma coisa!

Preocupada vovó mobilizou a todos que saíram, uns a cavalo, outros a pé à procura da Joana com a crioulinha de um ano que estava com ela.

Seguiram o caminho costumeiro de Joana, passaram duas casas de colonos por onde ela às vezes parava, na esperança de encontrá-la. Nenhuma notícia. Aumentou a apreensão.

Quando, depois de muita procura, se esvaneciam as esperanças, próximo a uma vertente ouviram murmúrios de criança. Sobre uma moita de capim, a poucos metros de um enorme desbarrancado, jazia o corpo de Joana. O capim á sua volta estava amassado, denunciando que a criança por ali circundara á noite em volta da mãe morta. Os peitos murchos do cadáver, á mostra....Joana cumprira , mesmo depois de morta o seu instinto de mãe: A criança alheia , brincava a seu lado , saciada com o leite que sugara durante a noite.

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PALAVRAS FINAIS

Que bons ventos te tragam sempre...
e que bons ventos te levem...

mais leve, feliz,

tranquilo e

em paz!

Grande abraço!

Ana Eugênia


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