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João, simplesmente João

domingo, 8 de julho de 2012

Ana Eugênia Loyolla Hollanders de Moura

Isso mesmo, João... simplesmente João.
 Acidente chegando, vindo da Br 262, próximo a Ibiá-MG.
Trabalhava em um Pronto Socorro básico, e nos chega um acidentado, muito ferido, mas ferimentos aparentemente sem gravidade, sem acompanhantes, sem identidade, sem qualquer documento.
É atendido e em sua ficha de primeiros socorros identificado como "desconhecido", mas isso não importava para o seguimento do cuidado da equipe do plantão.
Iniciamos nosso trabalho: feitas limpezas, suturas, medicação, sondagens... tudo o que se fez necessário. Avaliação da consciência: paciente em coma. Parâmetros vitais dentro da normalidade. Somente não acordava, não mexia, nada além de respirar, respirar, respirar.


Após algum tempo e muitas tentativas, conseguimos encaminhá-lo para exames (tomografia) em outro município, pois no que estava sendo atendido não contava com este serviço.
Prepara-se a ambulância, equipe, colocamos o paciente no transporte e o conduzimos com equipe completa para a realização deste exame, que foi feito sem qualquer intercorrência.
Voltamos para nossa cidade de origem, pois ao exame estava tudo normal, sem necessidade de cuidados intensivos. 
Colocamos nosso “desconhecido” em quarto destinado a observação especial, e seguimos com os cuidados deste: alimentação por sonda, diurese por sonda, banho de leito, curativos, movimentações passivas... dias e dias seguidos, nada do desconhecido acordar ou aparecerem familiares que o reconhecessem...
Passa-se um mês e pouco...  e ele dá sinais de despertar daquele sono profundo... abre os olhos, balbucia...
Tres meses se passaram desde sua chegada... Agora já o entendemos pelo olhar, sabemos o que ele gosta e o que não gosta... já se alimenta com ajuda, senta em cadeira com apoios. Tentamos descobrir seu nome... nada... Ele não consegue falar, só balbuciar sons.
Começamos a chamá-lo de João, simplesmente João, pois parece reagir bem a este nome.
Três meses... seis meses.
Agora ele está em um quarto só dele, ainda no hospital.
Nosso João melhorou, seu cabelo é mantido curto, mas é preto.
Suas lesões sararam... sua pele é branca, agora muito branca devido a estar sempre no hospital com pouco tempo ao sol.
As unhas estão sem micoses ou rachaduras, está bem cuidado, sente-se seguro.
Seu olhar às vezes é distante, mas sorri quando nos vê chegando para seus cuidados diários. Ainda não anda, não fala. Quando está sentado em frente a janela tem seu olhar distante, por vezes, triste e com lagrimas nos olhos.
Colocamos sua foto na internet, em jornais da região... Apareceram algumas pessoas, mas  sem sinal de reconhecê-lo.
Uma vez, somente uma vez, tivemos a impressão que seria a família dele. Ele mostrou alegria ao ver os que o procuravam, mas estes disseram não o reconhecer e que seria muito difícil para uma família de poucas posses cuidar dele em casa devido a suas necessidades de cuidados contínuos, que no hospital estava bem cuidado. E foram embora...
Não trabalho mais lá desde 2005... muitos anos se passaram. .. e  o João ?

 O João... continua lá no hospital, até onde fiquei sabendo... 
João... simplesmente João.

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PALAVRAS FINAIS

Que bons ventos te tragam sempre...
e que bons ventos te levem...

mais leve, feliz,

tranquilo e

em paz!

Grande abraço!

Ana Eugênia


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